Tempo de leitura: 4 minutos

O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-RS), em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), deu início ao “Projeto Itinerante RS – Trabalho Decente”. A primeira parada ocorreu na terça-feira (12/11), no município de Arvorezinha, no Alto Vale do Taquari, com o objetivo de promover uma reflexão sobre a importância da conscientização e aplicação dos direitos trabalhistas, além de combater práticas ilegais como o trabalho escravo e o tráfico de pessoas.

O evento, que ocorreu no auditório do Centro Administrativo de Arvorezinha e teve como público-alvo as comunidades da cidade e também de Ilópolis, Putinga e Anta Gorda, informou e esclareceu a população local sobre os direitos dos trabalhadores e a atuação das instituições responsáveis pela fiscalização e proteção desses direitos.

A programação contou com palestras sobre temas voltados para a atuação da fiscalização do trabalho, a promoção dos direitos trabalhistas pelo MPT, além de um painel dedicado ao Programa de Enfrentamento ao Trabalho Escravo, Tráfico de Pessoas e Proteção ao Trabalho do Migrante, iniciativa coordenada pelo TRT-RS.

A mesa de abertura foi composta pelo desembargador Manuel Cid Jardon e pelo juiz Charles Lopes Kuhn, ambos gestores regionais do Programa Nacional de Enfrentamento ao Trabalho Escravo e ao Tráfico de Pessoas e de Proteção ao Trabalho do Migrante no TRT-RS; Lucilene Pacini, auditora fiscal do Trabalho; Gerson Soares Pinto, chefe da Seção de Fiscalização do Trabalho da Superintendência do MTE; Franciele D’Ambros, procuradora do MPT-RS; Jaime Talietti Borsatto, prefeito de Arvorezinha; e Patrícia Siqueira, representante da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Painéis

Atuação da Fiscalização do Trabalho na Garantia do Trabalho Digno no RS

A auditora fiscal do Trabalho Lucilene Pacini destacou que um dos objetivos do Ministério do Trabalho é a erradicação de toda forma de trabalho degradante. Ela apresentou alguns casos de ações de fiscalização do MTE. Lucilene relatou a realidade enfrentada na região, onde as denúncias de trabalho escravo ocorrem, especialmente envolvendo migrantes que chegam ao Brasil sem a devida documentação. Informou que, nos últimos quatro meses, houve um aumento significativo nas denúncias e nas ações de fiscalização, evidenciando a necessidade de atenção.

A contratação de mão de obra no meio urbano e no meio rural sem a aplicação da legislação trabalhista foi uma problemática central abordada pela auditora. Ela ressaltou que muitos trabalhadores, especialmente migrantes, operam na informalidade, sem registros ou documentos, o que os coloca em situações vulneráveis. Lucilene também mencionou a questão da terceirização irregular, em que trabalhadores são contratados de forma inadequada e acabam sem os direitos garantidos pela legislação trabalhista.

Além das falhas na contratação, a auditora trouxe à tona as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, como “o não pagamento das verbas salariais, como preconiza a legislação”. Ela apontou que esses trabalhadores costumam ser pagos de forma irregular, muitas vezes apenas por dias trabalhados, sem considerar a dificuldade de não receber em dias de chuva ou as condições inadequadas de alojamento. Lucilene alerta para a importância de abordar esses problemas, visando a proteção dos trabalhadores e a garantia dos direitos trabalhistas.

Atuação do MPT na Promoção dos Direitos dos Trabalhadores do RS

A procuradora do Trabalho Franciele D’Ambros destacou a missão do Ministério Público do Trabalho (MPT), que é promover o trabalho decente, garantindo direitos fundamentais como segurança no ambiente de trabalho, jornada equilibrada e bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores. Franciele lembrou que o MPT é uma instituição permanente que não pode ser abolida e se diferencia de outras instituições, como o Ministério do Trabalho e o Poder Judiciário. Ela explicou que o papel do MPT é essencial na defesa da “ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais disponíveis”.

A procuradora explicou as duas principais formas de atuação do MPT: a judicial e a extrajudicial, enfatizando a importância desta última. O trabalho extrajudicial do MPT inclui a investigação de denúncias de irregularidades trabalhistas, como trabalho escravo, discriminação e descumprimento de normas. Qualquer cidadão pode realizar uma denúncia por meio dos canais do MPT, e, a partir dessas denúncias, é iniciado um inquérito civil, em que são coletadas provas para confirmar ou descartar as alegações. Em casos confirmados de irregularidades, o MPT dá ao empregador a oportunidade de adequação da conduta, buscando uma solução que evite a judicialização.

Franciele explicou que a atuação judicial ocorre quando o empregador não colabora ou não ajusta sua conduta espontaneamente. Nesse cenário, o MPT pode ingressar com uma ação no Judiciário, onde as obrigações e os pedidos são semelhantes aos de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), mas com a diferença de que há maiores pedidos de indenização e uma sentença que obriga o cumprimento da legislação trabalhista. Franciele reforçou que, embora o objetivo do MPT seja sempre garantir o cumprimento das leis, os ajustes voluntários, obtidos por meio do TAC, tendem a proporcionar melhores resultados e são menos onerosos para os recursos públicos.

Programa de Enfrentamento ao Trabalho Escravo, ao Tráfico de Pessoas e de Proteção do Trabalho do Migrante

O desembargador Manuel Cid Jardon ressaltou a importância da coordenação entre instituições no combate a violações trabalhistas, especialmente no contexto de trabalho escravo e exploração laboral. Ele destacou que antigamente “cada um atuava isoladamente” e que, ao perceberem que isso não gerava resultados efetivos, instituições como a Justiça do Trabalho, Polícia Federal, Polícia Civil e Ministério Público passaram a atuar de forma conjunta e coordenada. Jardon mencionou a criação, em janeiro de 2023, de um grupo de especialistas em Direito do Trabalho para fortalecer essa cooperação e elaborar um programa nacional de combate às condições degradantes de trabalho.

O desembargador também enfatizou a centralidade dos direitos fundamentais na Constituição brasileira, especialmente a dignidade humana, que ele descreveu como um direito essencial e igualitário. O magistrado ressaltou que a Constituição assegura que a “dignidade é igual para todos”, independentemente de classe social, posição ou poder econômico. Jardon observou que a dignidade humana, associada aos valores de liberdade e cidadania, deve ser respeitada em todos os âmbitos e que, em situações de desrespeito, o cidadão tem o direito de buscar “a restauração” dessa dignidade, até mesmo frente ao próprio Estado.

Além disso, o magistrado apontou que um dos maiores desafios no combate a essas violações é a falta de “empatia” e “humanidade” de alguns empregadores, que falham em se colocar no lugar do outro. Ele destacou a importância de uma “empatia que leve à ação” e ao cumprimento das condições dignas de trabalho, essenciais para que as instituições atuem de forma integrada e para que se alcance maior respeito à dignidade dos trabalhadores.

Respeito à legislação trabalhista

O juiz do Trabalho Charles Lopes Kuhn abordou os desafios enfrentados pelos empresários para conciliar a competitividade com o respeito aos direitos trabalhistas. Segundo ele, enquanto muitas empresas buscam cumprir suas obrigações, “existem empresas que cumprem suas obrigações e que zelam para que essas coisas não aconteçam”, ao passo que outras, em busca de lucro, deixam de respeitar esses direitos. Charles ressaltou que, ao garantir condições dignas de trabalho, o poder público protege não apenas os trabalhadores, mas também os “bons empresários”, que são penalizados ao competir com empresas que desrespeitam a legislação trabalhista.

O magistrado também discutiu o papel dos empregadores na criação de um “meio ambiente artificial”, ou seja, o ambiente de trabalho que impacta diretamente a vida dos trabalhadores. Ele comparou as empresas a “reinos” dentro de um sistema globalizado, onde cada decisão administrativa afeta os empregados e, consequentemente, a sociedade ao redor.

Para o juiz, cada empregador é responsável por zelar pela dignidade no ambiente de trabalho e precisa lembrar que “as pessoas vão passar oito horas ali trabalhando”, levando as consequências desse ambiente para suas casas e comunidades.

Por fim, Charles alertou sobre os riscos sociais e econômicos de desconsiderar o impacto humano nas relações trabalhistas. Ele enfatizou que a exploração de trabalhadores, especialmente imigrantes, pode gerar problemas duradouros, como a criação de “bolsões de miséria”, que acabam prejudicando toda a sociedade. Ele afirmou que, em um mundo interconectado, “a lei do retorno vale pra tudo”, indicando que o desrespeito aos direitos trabalhistas eventualmente traz consequências negativas para todos.

Atendimento Especializado sobre Migrantes: Documentação, Regularização e Trabalho

A coordenadora de projetos da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Patrícia Siqueira, explicou o papel da organização na promoção de uma migração segura e digna. Fundada em 1951, a OIM surgiu após a Segunda Guerra Mundial para apoiar pessoas que precisavam migrar por razões de sobrevivência.

Ela destacou que o objetivo da OIM é promover uma “migração regular” e enfrentar os desafios do deslocamento populacional, garantindo que os direitos dos migrantes sejam respeitados. Patrícia ressaltou a importância de garantir trabalho decente para todos, incluindo migrantes, como uma responsabilidade de empregadores e da sociedade em geral.

Patrícia também descreveu os esforços da OIM para integrar migrantes ao mercado de trabalho, tanto por meio de capacitação quanto através de parcerias com o setor público e privado. A OIM “sensibiliza empresas sobre a contratação de migrantes no recrutamento ético” e apoia a integração dos migrantes em empresas.

Além disso, a Organização oferece apoio aos setores público e educacional para atender às necessidades específicas de famílias migrantes, como o reconhecimento de diplomas e qualificações, para que se sintam plenamente acolhidos e integrados.

A representante da OIM abordou iniciativas voltadas à empregabilidade e empreendedorismo, especialmente para mulheres migrantes, muitas das quais migram sozinhas e precisam encontrar formas saudáveis de sustento. Segundo ela, o empreendedorismo “fomenta a integração” e permite que o migrante se sinta parte da comunidade, vendo a cidade como “sua casa”. Através de projetos como o Migracidades, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a OIM apoia governos locais na criação de práticas de governança e boas práticas para a integração dos migrantes, promovendo uma convivência harmoniosa e sustentável para todos.

Engajamento

A ação foi marcada pela troca de experiências e pela construção de um diálogo essencial para o fortalecimento das políticas públicas de proteção ao trabalhador. O auditório ficou praticamente lotado. O evento, que contou com a presença de representantes de várias entidades públicas e da sociedade civil, demonstra a importância de se promover a educação e a conscientização sobre os direitos trabalhistas, especialmente em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos.

Série de encontros

Este foi o primeiro de uma série de encontros que o TRT-RS realizará em diferentes regiões do Estado ao longo de 2025. O projeto tem como objetivo aproximar as comunidades das instituições responsáveis pela defesa e fiscalização dos direitos dos trabalhadores e combater práticas ilegais, como a exploração do trabalho escravo e a precarização das condições de trabalho.

A organização do evento foi feita pelos seguintes servidores e servidoras da Coordenadoria de Sustentabilidade, Acessibilidade e Inclusão, e do Cerimonial do TRT-RS: Anita Cristina de Jesus, Laís Cristina Gerhardt, Elen Cristina Presotto, Cicero da Silva Ferreira e Rafael Filla Nunes.

Fim do corpo da notícia.
Fonte: Texto de Eduardo Matos (Secom/TRT4) e fotos de Guilherme Lund
Compartilhe também no:

ARVOREZINHA | Administração Municipal adota turno único

Artigo anterior

Boulevard Encantado tem quase 20 atrações para a semana de inauguração

Próximo artigo

Você também pode gostar

QUER COMENTAR SOBRE ESTÁ NOTÍCIA?

Política de moderação de comentários: A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro ou o jornalista responsável por blogs e/ou sites e portais de notícias, inclusive quanto a comentários. Portanto, o jornalista responsável por este Portal de Notícias reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal e/ou familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.