Nelso José Ficagna, 69 anos, é casado com Solange Maria Sonda Ficagna e tem um filho Lucas. Nasceu na localidade da Pratinha, interior de Espumoso e é o caçula de uma família de oito irmãos, quatro homens e quatro mulheres.
Ele conta que todos sempre se identificaram como agricultores, pois tinham gosto pelo trabalho, que era diversificado na época. “Éramos um grupo de agricultura bem familiar. Plantávamos de milho, arroz, trigo, erva mate e frutas de todas as espécies, inclusive a laranja tangerina que há tempo não vejo. Em nossas terras havia também plantas nativas como: pinhão, pitanga, angá, amora entre outras. Tínhamos como fonte de renda: a Tafona que produzia a farinha de mandioca e o polvilho e a criação de suínos. E para o consumo da família era feita a plantação de cana para a produção de açúcar e melado, criação de gado para a carne, leite e derivados. As penas de aves eram guardadas para a fabricação de travesseiros. Tudo era administrado pelos meus pais Clemente Cypriano e Maria Cornelli Ficagna. Com o passar dos anos meus irmãos foram construindo suas famílias e seguindo o mesmo trabalho”, lembrou.
Nelson relata que ainda criança, ajudava no cuidado de animais, horta e frutas. Seu pai faleceu quando ele tinha 16 anos. Com sua mãe e o irmão Alvanir continuaram trabalhando a terra e com os demais irmãos criaram uma sociedade, vindo a adquirir o maquinário. “O Alvanir trabalhava com as máquinas e minha mãe e eu cuidávamos dos animais, limpeza da terra, que era feita com a capinar e plantações de subsistência. Conseguimos comprar um trator e implementos para o preparo da terra e uma trilhadeira para a colheita dos produtos. Fazíamos o trabalho com muito amor e eu gostava de cantar durante o trabalho. Se algo dava errado nem percebíamos, era muito bom ver as plantas produzindo, e o plantel de animais aumentando”, afirmou.
Ficagna ainda recorda que a produção de milho era boa e ele sozinho quebrava em cerca de um reboque, o que representa de 18 a 21 sacas de 60 quilos de milho por dia.. Seus irmãos deixaram o Rio Grande do Sul para morar na Bahia. Em 1993 sua mãe faleceu e ele, juntamente com sua esposa e seu filho continuaram a trabalhar na terra.
Nelso disse que conseguiu estudar até a quinta séria na escola de sua localidade. Depois de casado conciliou o trabalho na agricultura familiar e pôde voltar a estudar, na sexta série, na Escola Belizário de Oliveira Carpes, da Campina Redonda, onde concluiu o Ensino Fundamental. O Ensino Médio foi concluído no Instituto Estadual de Educação Dr. Ruy Piégas Silveira.
Em sua trajetória, Nelso teve a oportunidade de passar pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Sicredi e Cotriel, entidades das quais permanece como sócio: “Tive a oportunidade e interesse de conhecer melhor a agricultura, participando de reuniões, e vi a luta em defesa da agricultura familiar. Comecei a me interessar nas entidades quando tive a oportunidade de ser Secretário e mais tarde como tesoureiro do Sindicato, oportunidades que aproveitei para adquirir mais conhecimento”.
No Sicredi realizou o Curso Crescer e Pertencer, sendo por duas vezes coordenador de núcleo. Na Cotriel foi Conselheiro Fiscal Suplente na gestão 2023 a 2024, tendo a oportunidade de assumir o cargo de forma efetiva por quatro meses.
Nelso encerra lembrando que o agricultor tem passado por muitos desafios, principalmente os climáticos com estiagem e chuvas em excesso, bem como as incertezas que cercam os custos para plantar e no valor recebido pela produção: “O trabalho do agricultor favorece o bem estar pelo alimento, que proporciona alegria, pois o ser humano bem alimentado é feliz. É isso que o mundo precisa. O cultivo diversificado e a sucessão familiar. Quando lembro do motorista, penso em um herói que luta nas estradas pelo sustento de sua família. Gratidão sempre por aquele produtor jovem que cuida da terra, deixando-a fértil com capacidade de produzir. Aos pais eu só peço que passem aos filhos a importância de gostar da propriedade rural, tornando os seus sucessores. Deus os abençoe aos produtores e suas plantações e ao herói motorista”, finalizou.
Jornalista Roger Cunha Nicolini