Na manhã desta quarta-feira, 19 de janeiro, o presidente da Cotriel, Leocezar Nicolini esteve representando a Fecoagro em uma reunião com o Governo do Estado. Ao lado do vice-presidente da Cotribá, Enio Nascimento, do prefeito de Quinze de Novembro, Gustavo Stolte, do deputado estadual do MDB, Clair Kuhn, juntamente com demais lideranças das regiões Alto Jacuí e Alto da Serra do Botucaraí, estiveram reunidos com o Chefe da Casa Civil, Artur Lemos Junior e o presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza, a fim de entregar números que relatam as perdas nas lavouras de soja e milho e na atividade leiteira que ultrapassam os 90% nas lavouras de milho e mais de 60% na cultura da soja, sendo que no leite, além de prejudicar a rentabilidade do produtor, também a exemplo das demais pode afetar a arrecadação de impostos dos municípios.
O presidente Leocezar enfatizou em sua manifestação que o estudo realizado de forma cooperativa, tem dados, propostas e sugestões para manter a viabilidade das propriedades, fazendo com que o produtor possa gerar renda e, consequentemente, desenvolver a economia local. “Como cooperativa, estamos aqui representando nossos associados e os produtores em geral que estão sofrendo com a falta de chuva. Por isso, entendemos ser imprescindível a liberação de recursos emergenciais para financiar a aquisição de alimentos aos animais, disponibilizar recursos para implantação de novas culturas para alimentação animal, subsídios para a aquisição de sementes de milho; e posteriormente, recursos para implantação de irrigação e soluções para as dívidas dos pequenos produtores. No documento que apresentamos, procuramos sugerir alternativas reais e de resultado rápido, para os produtores de leite das regiões citadas manterem as suas famílias na atividade rural, os seus animais produzindo, gerando impostos e girando o comércio dos municípios.
Fotos: Ascom Clair Kuhn
TEOR DO DOCUMENTO ENTREGUE AO GOVERNO DO RS
Estudo sobre a estiagem e situação atual da bacia leiteira e pecuária no Alto Jacuí e Alto da Serra do Botucaraí
No gráfico abaixo podemos ver o comparativo do registro das chuvas em 4 estações meteorológicas, que demostram que as regiões do Alto Jacuí e do Alto da Serra do Botucaraí são as mais impactadas pelas baixas precipitações.
Na atividade leiteira das regiões do Alto Jacuí e Botucaraí, o longo período de estiagem está assolando e causando severos danos nas suas respectivas economias, com profundos reflexos sobretudo na bacia leiteira. A falta de chuvas comprometeu a formação de pastagens, que não se estabeleceram após a semeadura ou não se desenvolveram e a produção de silagem de milho, que se constitui na principal fonte de alimentos conservados destinados à produção de leite. As lavouras de milho destinadas à produção de silagem tiveram uma perda superior a 80% do volume potencial e o que foi possível colher para silagem tem uma qualidade muito abaixo do ideal.
O impacto destas perdas tem reflexo financeiro no curto, médio e longo prazo, haja vista que a silagem é utilizada na alimentação de forma imediata e também como reserva para ser utilizada durante todo o ano.
As consequências da carência de nutrientes na dieta dos animais trarão ainda outros impactos nos rebanhos. Animais mal nutridos terão dificuldades em relação à reprodução, atrasos na manifestação do cio com dificuldade para emprenhar e consequente aumento no intervalo entre partos, o que significa uma lactação mais longa com uma menor média diária de produção, e uma menor produção ao longo da vida útil destas vacas.
As perdas com um ciclo reprodutivo também se refletem a longo prazo, pois teremos um menor número de animais nascidos o que significa menos fêmeas para reposição ou crescimento do rebanho.
Como consequências mais graves, já nos deparamos com alguns casos de mortalidade de animais, e, inclusive, o abandono de produtores da atividade leiteira, causando o êxodo rural.
Para amenizar a situação e tentar diminuir as perdas na produção dos animais o produtor terá que buscar formas alternativas de alimentação para os animais, aumentando os custos de produção. E como se não bastasse toda esta crise hídrica, o produtor tem que conviver com a alta dos preços das matérias primas que compõem as rações para os animais.
As alternativas para solucionar os problemas com a alimentação variam de produtor a produtor. Por exemplo, para aqueles que não conseguiram fazer silagem este ano, tem a possibilidade de aquisição de silagem no mercado, em forma de bags (bolas).
Já os produtores que conseguiram fazer silagem, porém em menor quantidade e de baixa qualidade, terão que aumentar a suplementação de alimentos no cocho, como ração, farelos e outros coprodutos disponíveis no mercado, como forma de compensar a falta de nutrientes nestas silagens e nas próprias pastagens naturais e da época.
E ainda, assim que as chuvas retornarem, se fará necessário o plantio de forrageiras para a formação de pastagens de verão para compensar o vazio forrageiro que se instalou em função da seca e o plantio de forragens para fazer silagem de safrinha.
No início do outono, o plantio precoce de pastagens de inverno será uma grande fonte de nutrientes e em seguida o plantio de variedades de grãos forrageiros de inverno para fazer silagem no intuito de repor as reservas consumidas no verão.
Entendemos que sejam necessários recursos para financiar a compra de alimento para os animais, para atravessar esse período de dificuldades imposto pela falta de chuvas como forma de garantir a sustentabilidade da cadeia produtiva do leite em nossa região. Se nada for feito, estima-se que o impacto na redução da produção leiteira na região será de pelo menos doze meses, com redução superior à 50% em relação ao volume total de leite previsto para este período.
Além das perdas diretas na produção, podemos considerar perdas em toda a cadeia produtiva do leite como: fornecimento de insumos, alimentos, medicamentos para os animais, transporte do leite, indústria, empregos diretos e indiretos serão perdidos, causando um grande impacto em toda a economia regional e estadual.
Como exemplo, podemos citar o valor do ICMS adicionado pela indústria da CCGL, pertencente a um grupo de cooperativas, que no ano de 2020 foi de R$ 161.969.165,00.
Infelizmente, em função da redução na produção, sofrerá forte redução neste ano de 2022, com impacto em sobre a receita futura dos municípios.
Abaixo apresentamos quadro com os principais dados da produção de leite da região.
Município | Vacas ordenhadas | Produção de leite – l/ano |
Ibirubá | 7.586 | 48.271.000 |
Quinze de Novembro | 4.785 | 40.955.000 |
Fortaleza dos Valos | 2.818 | 16.792.000 |
Boa Vista do Incra | 2.518 | 8.631.000 |
Saldanha Marinho | 1.853 | 13.031.000 |
Santa Bárbara do Sul | 1.944 | 6.613.000 |
Cruz Alta | 1.710 | 7.354.000 |
Selbach | 3.371 | 26.376.000 |
Tapera | 1.312 | 6.735.000 |
Espumoso | 3.577 | 15.342.000 |
Alto Alegre | 1.825 | 9.299.000 |
Campos Borges | 1.190 | 4.454.000 |
Estrela Velha | 2.500 | 5.268.000 |
Jacuizinho | 1.027 | 3.594.000 |
Salto do Jacuí | 2.541 | 9.273.000 |
Sobradinho | 1.600 | 2.500.000 |
Lagoa dos Três Cantos | 1.094 | 6.342.000 |
Victor Graeff | 3.324 | 15.914.000 |
TOTAL | 44.057 | 246.744.000 |
Fonte: IBGE Cidades
- Produção mensal de leite: 20.562.000 litros
- Faturamento anual: R$ 493.488.000,00 (R$ 2,00/l – média CCGL)
- Faturamento mensal: R$ 41.124.000
- Perdas estimadas de Dezembro a Junho: 50% no volume total: R$ 123.372.000
AÇÕES NECESSÁRIAS PARA AUXÍLIO AOS PRODUTORES DE LEITE DA REGIÃO DO ALTO JACUÍ E ALTO DA SERRA DO BOTUCARAÍ
- MEDIDAS URGENTÍSSIMAS: Liberação de recursos de forma emergencial para financiar a aquisição de alimentos para os animais, através de projetos eficientes nos Bancos Públicos (Banrisul, BNDES, Badesul) e privados.
- Recursos para financiar a aquisição de alimentos para os animais
- Silagem em bags (bolas)
- Rações, concentrados e coprodutos para o período mínimo de 6 meses;
Valor necessário por vaca: R$ 4.230,00 para o período de 6 meses
Alimentação diária:
- 4 kg de ração/concentrado (R$ 2,50/Kg): R$ 10,00
- 30 Kg de silagem (R$ 0,45/Kg): R$ 13,50
- Recursos para implantação de novas culturas para alimentação animal
- Sementes de forrageiras
- Sementes de milho para silagem
- Fertilizantes
- Defensivos
Valor necessário para a implantação de 1 ha de pastagem:
Insumo | Valor |
Capim Sudão |
|
Sementes (20 kg kg/ha) | R$ 145,00 |
Adubo 05-20-20 (250 kg) | R$ 1.050,00 |
Ureia plus (200 kg) | R$ 1.040,00 |
Glifosato (2,5 l) | R$ 135,00 |
2,4 D (1,5 l) | R$ 40,00 |
Select (0,5 l) | R$ 40,00 |
Finale (2,0 l) | R$ 190,00 |
Atrazina (3 l) | R$ 80,00 |
Total | R$ 2.720,00 |
Aveia |
|
SEMENTE(90 kg kg/HÁ) | R$ 270,00 |
Adubo 05-20-20 (200 kg) | R$ 840,00 |
Ureia plus (120 kg) | R$ 520,00 |
Glifosato (2,5 lt) | R$ 135,00 |
2,4 D (1,5 lt) | R$ 40,00 |
Select (0,5 lt) | R$ 40,00 |
Ally | R$ 5,00 |
R$ 1.850,00 |
Valor necessário para a implantação de 1 ha de silagem:
Insumo |
Valor |
Semente (1,2 sc/ha) | R$ 860,00 |
Adubo 05-20-20 (350 kg) | R$ 1.470,00 |
Ureia plus (300 kg) | R$ 1.560,00 |
Glifosato (2,5 l) | R$ 135,00 |
2,4 D (1,5 l) | R$ 60,00 |
Select (0,5 l) | R$ 40,00 |
Finale (2,0 l) | R$ 190,00 |
Primatop (5,0 l) | R$ 150,00 |
Total | R$ 4.465,00 |
Insumo |
Valor |
Trigo |
|
SEMENTE(110 kg/HÁ) | R$ 420,00 |
Adubo 05-20-20 (200 kg) | R$ 840,00 |
Ureia plus (120 kg) | R$ 780,00 |
Glifosato (2,5 lt) | R$ 135,00 |
2,4 D (1,5 lt) | R$ 60,00 |
Select (0,5 lt) | R$ 40,00 |
Ally | R$ 5,00 |
total | R$ 2.280,00 |
- Condições para ressarcimento dos valores
- Carência de no mínimo 12 meses
- Pagamento em 5 anos com parcelas mensais
- Forma de liberação
- Projeto técnico por propriedade
- Valor estimado para o auxílio emergencial
- Aquisição de alimentos: R$ 186.361.110,00
- Formação de pastagens (4.200 ha):R$ 11.424.000
- Formação de silagem: (6.300 ha): R$ 28.129.500
- Formação de pastagem de inverno: (10.000 ha): R$ 18.500.000,00
- Formação de silagem de inverno: (5.000 ha): R$ 11.400.000,00
- TOTAL DE RECURSOS: R$ 255.814.610
- Milho CONAB: subsídio para aquisição pelos pequenos produtores através das cooperativas
- Subsídio para o programa troca-troca de sementes
- MEDIDAS DE CURTO E MÉDIO PRAZO
- Recursos para investimento em sistema de irrigação para os produtores de leite
- Solução para as dívidas dos pequenos produtores
- Prorrogação sem sobreposição de parcelas
- Rebate no valor total da dívida para pagamento parcelado
- FONTE:COTRIEL